Carta "Qui Pluribus" - Papa Pio IX

23/09/2024

Tradução: Gabriel Sapucaia

SS Pio IX
Carta Encíclica Qui Pluribus
(9 de novembro de 1846)

A todos os Patriarcas, Primazes, Arcebispos e Bispos.

Qui Pluribus

Nós que, há um considerável número de anos, nos dedicamos, assim como vós, segundo todas as nossas forças, ao cumprimento deste encargo episcopal tão cheio de trabalhos e de solicitações de todo tipo; nós, que nos esforçamos por dirigir e conduzir, nos montes de Israel, às margens das águas vivas, nos pastos mais férteis, a porção do rebanho do Senhor confiada aos nossos cuidados; encontramo-nos agora, pela morte de Gregório XVI, nosso ilustre predecessor, cujos atos gloriosos, inscritos em letras de ouro nos anais da Igreja, serão lidos com admiração pela posteridade, elevados ao ápice do Supremo Pontificado, por um desígnio secreto da divina Providência, não apenas contra todas as previsões e expectativas de nossa parte, mas ao contrário, com extremo temor e perturbação que então assaltaram nossa alma. Com efeito, se em todas as épocas o fardo do ministério apostólico foi e deve ser sempre considerado extremamente difícil e perigoso, certamente em nossos dias e em nossa época, tão cheios de dificuldades para a administração da república cristã, ele deve ser visto como extremamente temível. Também, profundamente cientes de nossa própria fraqueza, ao primeiro e único vislumbre dos imponentes deveres do Apostolado Supremo, sobretudo na conjuntura tão difícil das circunstâncias presentes, ter-nos-íamos abandonado inteiramente às lágrimas e à mais profunda tristeza, se não tivéssemos prontamente fixado toda nossa esperança em Deus, nossa salvação, que jamais deixa falhar aqueles que nele esperam, e que, além disso, zeloso em mostrar de tempos em tempos sua onipotência, se compraz em escolher os instrumentos mais fracos para governar sua Igreja, a fim de que, cada vez mais, todos os espíritos sejam levados a reconhecer que é o próprio Deus, por sua admirável Providência, quem governa e defende sua Igreja. Aliás, o que também nos consola e sustenta consideravelmente nossa coragem, Veneráveis Irmãos, é que, trabalhando pela salvação das almas, podemos contar convosco como nossos associados e coadjutores, vós que, por vocação, compartilhais nossa solicitude, e vos esforçais, com zelo e cuidados incansáveis, para cumprir vosso santo ministério e sustentar o bom combate.

Sentados, apesar de nosso pouco mérito, neste supremo assento do príncipe dos apóstolos, mal recebemos em herança, na pessoa do bem-aventurado apóstolo Pedro, esse encargo tão augusto e tão grave, divinamente concedido pelo príncipe eterno ao soberano de todos os pastores, de apascentar e governar, não apenas os cordeiros, isto é, todo o povo cristão, mas também as ovelhas, ou seja, os próprios chefes do rebanho; certamente, nada excita mais vivamente nossos votos e desejos mais prementes do que vos dirigir as palavras que nos são sugeridas pelos sentimentos mais íntimos de nosso afeto.

É por isso que, mal tendo tomado posse do supremo pontificado em nossa basílica de Latrão, conforme o costume e a instituição de nossos predecessores, imediatamente vos dirigimos as presentes cartas com o objetivo de despertar ainda mais vossa piedade, já tão eminente; e para que, com um aumento de prontidão, vigilância e esforço, vós sustentais as vigílias da noite ao redor do rebanho confiado aos vossos cuidados, e que, manifestando vigor e firmeza episcopal no combate contra o mais terrível inimigo da humanidade, sejais para a casa de Israel aquela barreira intransponível que somente os valorosos soldados de Jesus Cristo podem oferecer.

Nenhum de vós ignora, Veneráveis Irmãos, que, em nossa época deplorável, essa guerra tão terrível e feroz foi tramada contra o edifício da fé católica por essa raça de homens que, unidos entre si por uma criminosa associação, não suportando a sã doutrina, fechando os ouvidos à verdade, não hesitam em exumar das trevas, onde estavam enterradas, as opiniões mais monstruosas, que eles primeiro reúnem com todas as suas forças, para em seguida exibi-las e disseminá-las em todos os espíritos com a ajuda da mais funesta publicidade. Nossa alma é tomada de horror, e nosso coração sucumbe de dor, quando nos lembramos apenas em pensamento de todas essas monstruosidades de erros, toda a variedade desses inumeráveis meios de causar o mal; todas essas armadilhas e maquinações pelas quais esses espíritos inimigos da luz se mostram artistas tão hábeis em sufocar em todas as almas o santo amor da piedade, da justiça e da honestidade; como conseguem tão rapidamente corromper os costumes, confundir ou apagar os direitos divinos e humanos, abalar as bases da sociedade civil, abalá-las, e, se pudessem, destruí-las completamente.

Pois bem sabeis, Veneráveis Irmãos, esses implacáveis inimigos do nome cristão, tristemente arrastados por não se sabe qual furor de impiedade desenfreada, levaram o excesso de suas opiniões temerárias a tal ponto de audácia, até então inédito, que abrem suas bocas apenas para vomitar blasfêmias contra Deus; que abertamente e por todas as vozes da publicidade, não hesitam em ensinar que os sagrados mistérios de nossa religião são fábulas e invenções humanas, que a doutrina da Igreja Católica é contrária ao bem e aos interesses da sociedade. Vão ainda mais longe: não temem negar o Cristo e até mesmo o próprio Deus. Para fascinar ainda mais facilmente os povos, para enganar especialmente os espíritos desprevenidos e os ignorantes, e arrastá-los consigo para os abismos do erro, eles ousam vangloriar-se de serem os únicos possuidores do conhecimento das verdadeiras fontes da prosperidade; não hesitam em arrogar-se o nome de filósofos, como se a filosofia, cujo objetivo é pesquisar e estudar a verdade da ordem natural, devesse rejeitar com desprezo tudo o que o Deus supremo e muito clemente, autor de toda a natureza, por um efeito especial de sua bondade e misericórdia, dignou-se manifestar aos homens para sua verdadeira felicidade e salvação.

É por isso que, empregando uma maneira de raciocínio imprópria e enganosa, não cessam de exaltar a força e a excelência da razão humana, de enaltecer sua superioridade sobre a fé santíssima em Jesus Cristo, e declaram audaciosamente que essa fé é contrária à razão humana. Não, nada poderia ser imaginado ou suposto mais insensato, mais ímpio e mais contrário à própria razão.

Pois, embora a fé esteja acima da razão, jamais se poderá descobrir que haja oposição e contradição entre elas; porque ambas emanam desse Deus excelso e grandioso, que é a fonte da verdade eterna. Elas se prestam, ao contrário, um socorro mútuo tão grande que é sempre à reta razão que a verdade da fé pede sua demonstração, sua defesa e seu suporte mais seguros; e que a fé, por sua vez, liberta a razão dos erros que a cercam, ilumina-a maravilhosamente com o conhecimento das coisas divinas, confirma-a e a aperfeiçoa nesse conhecimento.

Os inimigos da revelação divina, Veneráveis Irmãos, não recorrem a meios de engano menos funestos quando, com elogios extremos, exaltam os progressos da humanidade. Na sua audácia sacrílega, pretendem introduzir esse progresso na própria Igreja Católica, como se a religião fosse obra não de Deus, mas dos homens, uma espécie de invenção filosófica à qual os recursos humanos poderiam acrescentar um novo grau de aperfeiçoamento.

Jamais homens tão deploravelmente desvairados mereceram melhor a censura que Tertuliano dirigia aos filósofos de seu tempo: "O cristianismo que apresentais não é outro senão o dos estóicos, dos platônicos e dos dialéticos" (De Praescriptione Haereticorum, c. 7).

Com efeito, nossa santíssima religião não foi inventada pela razão, mas diretamente revelada aos homens por Deus; e todos compreendem facilmente que esta religião, tirando toda sua força e virtude da autoridade da Palavra de Deus, não pôde ser criada nem pode ser aperfeiçoada pela simples razão. Portanto, para que a razão humana não se engane nem se perca em uma questão tão grave e de tamanha importância, é necessário que ela se indague cuidadosamente sobre o fato da revelação, para que lhe seja demonstrado de forma certa que Deus falou, e que, em consequência, segundo o ensinamento muito sábio do Apóstolo, ela deve prestar-lhe uma submissão razoável (Rm 12, 1). Mas quem ignora ou pode ignorar que, quando Deus fala, deve-se a Ele uma fé plena, e que não há nada mais conforme à própria razão do que dar assentimento e apegar-se firmemente às verdades inquestionavelmente reveladas por Deus, que não pode enganar nem ser enganado?

E quão numerosas, quão admiráveis, quão esplêndidas são as provas pelas quais a razão humana deve ser conduzida a essa convicção profunda: que a religião de Jesus Cristo é divina, que ela recebeu de Deus do céu a raiz e o princípio de todos os seus dogmas, e que, consequentemente, não há nada no mundo mais certo do que nossa fé, nada mais seguro nem mais venerável, e que se baseia em princípios sólidos.

Essa fé é a mestra da vida, o guia da salvação, a destruidora de todos os vícios, a mãe e a nutriz fecunda de todas as virtudes; consolidada pelo nascimento, vida, morte, ressurreição, sabedoria, prodígios e profecias de seu divino autor e consumador, Jesus Cristo; difundindo por toda parte o esplendor de sua doutrina sobrenatural, enriquecida com os tesouros inesgotáveis e verdadeiramente celestes de tantas profecias inspiradas aos seus profetas, pelo brilho resplandecente de seus milagres, pela constância de tantos mártires, pela glória de tantos santos. Cada vez mais insigne e notável, ela leva por toda parte as leis salutares de Jesus Cristo; e, dia após dia, adquirindo e obtendo incessantemente novas forças nas perseguições mais cruéis, armada apenas com o estandarte da cruz, conquista o universo inteiro, a terra e o mar, desde o oriente até o ocidente; e, depois de ter derrubado os ídolos enganosos, dissipado as espessas trevas do erro, triunfado sobre os inimigos de toda espécie, espalhou os benéficos raios de sua luz sobre todos os povos, todas as nações e todos os países, qualquer que fosse o grau de ferocidade de seus costumes, de sua natureza e de seu caráter bárbaro, curvando-os sob o jugo suave de Jesus Cristo, e anunciando a todos a paz e a felicidade.

Certamente, todas essas magnificências resplandecem de tal maneira com o brilho da potência e da sabedoria divinas, que todo pensamento e toda inteligência podem apreender prontamente e compreender facilmente que a fé cristã é obra de Deus.

Portanto, segundo essas esplêndidas e inatacáveis demonstrações, a razão humana é levada a este ponto que a obriga a reconhecer clara e manifestamente que Deus é o autor dessa mesma fé; a razão humana não pode avançar mais; mas, rejeitando e afastando toda dificuldade e toda dúvida, ela deve a essa mesma fé uma submissão sem reservas, pois ela mesma está segura de que tudo o que a fé propõe aos homens para crer e praticar, tudo isso vem de Deus.

Vê-se, portanto, manifestamente em que erro profundo se enredam esses espíritos que, abusando da razão e considerando os oráculos divinos como produtos do homem, ousam submetê-los ao julgamento de sua interpretação particular e temerária. Pois, uma vez que o próprio Deus estabeleceu uma autoridade viva, que deveria fixar e ensinar o verdadeiro e legítimo sentido de sua revelação celeste, e pôr fim, por seu julgamento infalível, a todas as controvérsias, seja em matéria de fé, seja em matéria de costumes, e tudo isso a fim de que os fiéis não sejam arrastados a todo vento de falsas doutrinas, nem envolvidos nas imensas malhas da malícia e das aberrações humanas. Essa autoridade viva e infalível só vigora nesta única Igreja que Jesus Cristo fundou sobre Pedro, o chefe, o príncipe e o pastor de toda a Igreja, a quem Ele prometeu que sua fé jamais falharia; a Igreja constituída de tal forma que sempre tem à sua frente e em sua sede imutável os seus Pontífices legítimos, que remontam, por uma sucessão não interrompida, até o Apóstolo Pedro, e gozam, como ele, da mesma herança de doutrina, dignidade, honra e poder sem rival. E como onde está Pedro, aí está a Igreja; como Pedro fala pela boca do Pontífice Romano, que vive sempre em seus sucessores, que exerce o mesmo julgamento e transmite a verdade da fé àqueles que a pedem, segue-se que os ensinamentos divinos devem ser aceitos no mesmo sentido que lhes atribui e sempre lhes atribuiu esta Cátedra Romana, Sé do bem-aventurado Pedro, a mãe e mestra de todas as Igrejas, que sempre conservou inviolável e inteira a fé dada pelo Senhor Jesus Cristo; que sempre a ensinou aos fiéis, mostrando-lhes a todos o caminho da salvação e a incorruptível doutrina da Verdade.

Esta Igreja é, portanto, a Igreja principal onde a unidade sacerdotal teve sua origem, é a metrópole da piedade, e nela permanece sempre inteira e perfeita a solidez da religião cristã; sempre se viu florescer nela o Principado da Cátedra Apostólica, para a qual toda a Igreja, isto é, todos os fiéis espalhados sobre a terra, devem necessariamente convergir, em razão de sua preeminente autoridade, Igreja sem a qual quem não recolhe, espalha.

*Nós, portanto, que fomos colocados, por um julgamento insondável de Deus, nesta Cátedra da Verdade, viemos excitar muito vivamente no Senhor a vossa notável piedade, Veneráveis Irmãos, para que renoveis todos os vossos esforços, a vossa solicitude e os vossos cuidados, advertindo e exortando continuamente todos os fiéis confiados à vossa vigilância, para que cada um deles, firmemente apegado a estes princípios, nunca se deixe enganar ou atrair pelo erro desses homens abomináveis em suas pesquisas, que não se dedicam, nesse estudo e na busca do progresso humano, senão à destruição da fé, que desejam, em seus esforços ímpios, submeter essa fé à razão humana, e que não recuam diante da audácia de ofender o próprio Deus, após Ele ter se dignado, em Sua clemência e por Sua divina religião, prover o bem e a salvação dos homens.

Mas conheceis ainda, Veneráveis Irmãos, as outras monstruosidades de fraudes e erros pelos quais os filhos deste século se esforçam diariamente para combater com tenacidade a religião católica e a divina autoridade da Igreja, bem como as suas leis, não menos veneráveis; como eles gostariam de pisotear igualmente os direitos do poder sagrado e da autoridade civil. É para esse fim que se voltam esses criminosos complôs, contra esta Igreja romana, sede do bem-aventurado Pedro, na qual Jesus Cristo colocou o fundamento indestrutível de toda a sua Igreja. Para isso se orientam todas essas sociedades secretas, saídas das profundezas das trevas, para fazer reinar por toda parte, tanto na ordem sagrada quanto na profana, apenas devastação e morte; sociedades clandestinas tantas vezes fulminadas pelo anátema dos Pontífices romanos, nossos predecessores, em suas Cartas apostólicas, as quais queremos, neste momento, confirmar e muito precisamente recomendar à observância, pela plenitude do nosso poder apostólico.

É ainda para esse fim que se voltam essas sociedades bíblicas pérfidas, que, renovando os artifícios odiosos dos antigos hereges, não cessam de agir contra as regras tão sábias da Igreja, e de disseminar entre os fiéis menos instruídos os livros das Sagradas Escrituras traduzidos em todas as espécies de línguas vulgares, e frequentemente explicados em um sentido perverso, consagrando à distribuição desses milhares de exemplares somas incalculáveis, espalhando-os por toda parte gratuitamente, para que, após terem rejeitado a tradição, a doutrina dos Padres e a autoridade da Igreja Católica, cada um interprete os oráculos divinos segundo o seu próprio e particular julgamento, e caia assim no abismo dos mais terríveis erros. Animado de uma justa emulação pelo zelo e pelos santos exemplos dos seus predecessores, Gregório XVI, de santa memória, de quem fomos constituídos sucessores, apesar da nossa inferioridade de mérito, condenou por suas Cartas apostólicas essas mesmas sociedades secretas, as quais também declaramos condenadas e desonradas por nós.

É ainda para esse fim que se volta esse horrível sistema de indiferença em matéria de religião, sistema que repugna mais à própria luz natural da razão. É por esse sistema, com efeito, que esses hábeis artífices da mentira buscam eliminar toda distinção entre o vício e a virtude, entre a verdade e o erro, entre a honra e a torpeza, e pretendem que homens de toda crença e religião possam chegar à salvação eterna: como se jamais pudesse haver acordo entre a justiça e a iniquidade, entre a luz e as trevas, entre Jesus Cristo e Belial.

É para esse mesmo fim ainda que se volta essa vergonhosa conspiração que se formou recentemente contra o celibato sagrado dos membros do clero, conspiração que conta, oh dor!, entre seus apoiadores, alguns membros da ordem eclesiástica, os quais, esquecendo miseravelmente sua própria dignidade, deixam-se vencer e seduzir pelas vergonhosas ilusões e pelos funestos atrativos da volúpia. É para esse fim que se orienta esse modo perverso de ensino, especialmente aquele que trata das ciências filosóficas, e pelo qual, de maneira tão deplorável, se engana e se corrompe uma juventude imprevidente, derramando-se o fel do dragão na taça da Babilônia. Para esse mesmo fim se orienta essa execrável doutrina, destruidora até mesmo do direito natural, chamada comunismo, a qual, uma vez admitida, logo faria desaparecer completamente os direitos, os interesses, as propriedades e até mesmo a sociedade humana; aí se orientam também as armadilhas profundamente tenebrosas daqueles que escondem a rapacidade do lobo sob a pele de ovelha, insinuando-se habilmente nos espíritos, seduzindo-os com a aparência de uma piedade mais elevada, de uma virtude mais austera; os vínculos que impõem são mal perceptíveis, e é na sombra que eles trazem a morte; desviam os homens de toda prática do culto; uma vez degoladas as ovelhas do Senhor, despedaçam seus membros.

Isso é, enfim, para não enumerar aqui todos os males que vos são tão bem conhecidos, é para esse fim funesto que se volta essa execrável contaminação de pequenos livros e volumes que chovem de todas as partes, ensinando a prática do mal; compostos com arte, cheios de artifícios e enganos, difundidos a grandes custos em todos os lugares da terra, para a perdição do povo cristão, semeiam por toda parte as sementes de doutrinas funestas, fazem penetrar a corrupção, especialmente nas almas dos ignorantes, e causam à religião as mais funestas perdas. Como consequência desse terrível transbordamento de erros por toda parte disseminados, e também dessa desenfreada licença de pensar, dizer e imprimir tudo, os costumes públicos desceram a um grau alarmante de malícia; a santíssima religião de Jesus Cristo é desprezada; a augusta majestade do culto divino, desdenhada; a autoridade da Santa Sé apostólica, subvertida; o poder da Igreja, constantemente atacado e reduzido às proporções de uma servidão humilhante; os direitos dos bispos, pisoteados; a santidade do matrimônio, violada; a administração de ambos os poderes, universalmente abalada; tais são, entre outros, Veneráveis Irmãos, os males que devoram a sociedade civil e religiosa, e que somos obrigados a deplorar hoje, misturando as nossas lágrimas às vossas.

Portanto, no meio dessas grandes vicissitudes da religião, dos eventos e dos tempos, profundamente preocupado com a salvação de todo o rebanho divinamente confiado aos nossos cuidados, no cumprimento da missão do nosso ministério apostólico, estai certos de que não omitiremos tentativas nem esforços para assegurar o bem espiritual de toda a família cristã. Contudo, venho também incitar no Senhor toda a ardência da vossa piedade, já tão notável, toda a vossa virtude e toda a vossa prudência.

Como nós, apoiados na ajuda do Alto, defendei conosco e valorosamente, Veneráveis Irmãos, a causa da Igreja, firmes no posto que vos foi confiado e sustentando a dignidade que vos distingue. Compreendeis que a luta será árdua, pois não ignorais o número e a profundidade das feridas que oprimem a Imaculada Esposa de Jesus Cristo, e quais terríveis devastações seus inimigos implacáveis lhe fazem sofrer.

Ora, sabeis perfeitamente que o primeiro dever do vosso ofício é empregar vossa força episcopal para proteger e defender a fé católica, e velar com o maior cuidado para que o rebanho que vos é confiado permaneça firme e inabalável na fé, sem a conservação íntegra e inviolável da qual ele certamente pereceria para a eternidade. Portanto, tende o maior zelo em defender e conservar esta fé conforme vossa solicitude pastoral, e nunca cesseis de instruir todos aqueles que vos são confiados, de confirmar os espíritos vacilantes, de confundir os contraditores, de fortificar os fracos, não dissimulando ou tolerando nada que possa, de alguma forma, parecer ferir a pureza dessa fé.

Com a mesma coragem e firmeza, deveis favorecer a união e a adesão de todos os corações a esta Igreja Católica, fora da qual não há salvação; a submissão a esta Cátedra de Pedro, sobre a qual repousa, como sobre o mais inabalável fundamento, todo o majestoso edifício de nossa santíssima religião. Empregai a mesma constância para velar pela conservação das santíssimas leis da Igreja, pelas quais vivem e florescem plenamente a virtude, a religião e a piedade.

Mas, como é uma prova incontestável de grande piedade assinalar os covis tenebrosos dos ímpios e vencer neles o demônio, seu mestre, conjuro-vos a empregar todas as forças do vosso zelo e dos vossos esforços para descobrir aos olhos do povo fiel todas as armadilhas, todas as enganações, todos os erros, todas as fraudes e todas as manobras dos ímpios; afastai com grande cuidado esse mesmo povo da leitura de tantos livros envenenados e, por fim, exortai assiduamente o povo fiel a fugir, como diante da visão da serpente, das reuniões e das sociedades ímpias, para que ele possa assim preservar-se muito cuidadosamente do contato com tudo o que é contrário à fé, à religião e aos bons costumes.

Para obter tais resultados, cuidai para não cessar, nem por um instante, de pregar o Santo Evangelho; pois é tal instrução que faz crescer o povo cristão no conhecimento de Deus e na prática cada vez mais perfeita da santíssima lei do cristianismo; por ela, ele será afastado do mal e caminhará nas sendas do Senhor.

E já que sabeis que preencheis a função de Jesus Cristo, que se declarou manso e humilde de coração, que veio à terra, não para chamar os justos, mas os pecadores, deixando-nos seu exemplo, a fim de que imitemos sua vida e caminhemos em seus passos; nunca negligencieis, sempre que descobrirdes alguns delinquentes no caminho dos preceitos do Senhor, e quando os virdes afastar-se da senda da justiça e da verdade, nunca negligencieis empregar junto a eles os avisos da ternura e da mansidão de um pai; e, para corrigi-los, repreendei-os com conselhos salutares; em vossas instâncias, assim como em vossas repreensões, empregai sempre os ofícios da bondade, da paciência e da doutrina; pois é demonstrado que, para corrigir e reformar os homens, a bondade frequentemente possui mais poder que a severidade, a exortação prevalece sobre a ameaça, e a caridade vai mais longe que a autoridade.

Juntai ainda todos os vossos esforços, Veneráveis Irmãos, para alcançar outro importante resultado, a saber, que os fiéis amem a caridade, façam reinar a paz entre si e pratiquem com cuidado tudo o que serve à manutenção dessa caridade e dessa paz. Por isso, não haverá mais dissensões, inimizades ou rivalidades, mas todos se amarão com uma ternura mútua; serão perfeitamente unânimes no mesmo sentimento e na mesma verdade, na mesma palavra, no mesmo espírito em Jesus Cristo Nosso Senhor.

Aplicai-vos a inculcar ao povo cristão o dever de submissão e obediência em relação aos príncipes e aos governos; ensinai-lhe, segundo o preceito do Apóstolo, que toda autoridade vem de Deus; que aqueles que resistem à autoridade resistem à ordem divina e merecem ser condenados, e que este preceito de obediência em relação ao poder não pode jamais ser violado sem merecer punição, exceto quando este poder exigir algo contrário às leis de Deus e da Igreja.

Entretanto, como nada é mais apropriado para dispor continuamente as almas à prática da piedade e ao culto de Deus do que a vida e os atos exemplares daqueles que se consagraram ao ministério divino, e como tais são os sacerdotes, tais são ordinariamente os povos, compreendeis em vossa eminente sabedoria, Veneráveis Irmãos, que deveis empregar todos os vossos cuidados para que cada membro de vosso clero brilhe pela gravidade dos costumes, pela santidade e integridade de vida, e pela doutrina; e para que as prescrições dos santos cânones e da disciplina eclesiástica sejam rigorosamente observadas, e onde a disciplina sucumbiu, que lhe seja restituído o antigo esplendor.

Para isso, como sabeis muito bem, deveis evitar com o maior cuidado impor as mãos a qualquer candidato com demasiada precipitação, contra o conselho do Apóstolo; mas admitireis à iniciação das ordens sagradas, e elevareis ao poder temível de consagrar os santos mistérios, apenas os levitas previamente provados e examinados com rigor, aqueles que se distinguem pelo ornamento de todas as virtudes e que mereceram justo louvor por sua sabedoria intacta; de tal modo que possam ser obreiros úteis e a glória da Igreja em cada um de vossos dioceses, e, finalmente, aqueles que, afastando-se cuidadosamente de tudo o que é contrário à vida clerical, dedicando-se antes ao estudo, à pregação e ao conhecimento profundo da doutrina, sejam, de fato, o exemplo perfeito para os fiéis, em sua palavra, em sua conduta, na caridade, na fé, na castidade; de tal modo que à sua aproximação todos experimentem o sentimento de uma veneração merecida; que por eles, cada vez mais, o povo cristão seja formado, incitado e inflamado ao amor de nossa divina religião. Pois é mil vezes preferível, segundo o tão perfeitamente sábio conselho de Bento XIV, um de nossos predecessores de imortal memória, que haja um número restrito de sacerdotes, contanto que se mostrem excelentes, capazes e úteis, do que ter um grande número, incapazes de qualquer maneira de promover a edificação do corpo de Jesus Cristo, que é a Igreja.

Não ignorais também que é preciso examinar com o maior cuidado quais são, especialmente, os costumes e a ciência daqueles a quem são confiadas a administração e a direção das almas, para que, ministros fiéis e dispensadores das diversas formas da graça de Deus, na administração dos sacramentos ao povo que lhes é confiado, saibam alimentá-lo e encorajá-lo pela pregação da palavra divina e pelo apoio contínuo do bom exemplo; que saibam formá-lo em todos os ensinamentos e práticas da religião e mantê-lo no caminho da salvação. Sabeis perfeitamente que é à ignorância dos pastores ou à negligência dos deveres de seu ofício que se deve atribuir perpetuamente o relaxamento dos costumes entre os fiéis, a violação da disciplina cristã, o abandono, e depois a destruição total das práticas e do culto religioso, e, finalmente, a irrupção de todos os vícios e corrupções que penetram então facilmente na Igreja. Quereis que a palavra de Deus, que é sempre viva e eficaz e mais penetrante que uma espada de dois gumes, estabelecida para a salvação das almas, não retorne inútil e impotente por culpa de seus ministros; nunca cesseis, Veneráveis Irmãos, de inculcar na alma dos pregadores essa palavra divina, e de lhes recomendar a meditação espiritual e profunda dos deveres desse augusto e tão grave ofício; dizei-lhes que não devem empregar no ministério evangélico esse aparato e artifício que a habilidade mundana ensina para persuadir sua falsa sabedoria, nem essas vãs pompas e encantos ambiciosos que caracterizam a eloquência profana, mas que devem antes exercitar-se, e muito religiosamente, na demonstração do espírito e da virtude de Deus. Tratando assim convenientemente a palavra da verdade, não pregando a si mesmos, mas a Jesus Cristo crucificado, que anunciem aos povos simplesmente e claramente os dogmas de nossa santa religião segundo a doutrina da Igreja Católica, conforme o ensinamento dos Padres, e em uma elocução sempre grave e majestosa; que expliquem com precisão os deveres particulares e especiais de cada um; que inspirem a todos o horror ao vício e um vivo ardor pela piedade, para que os fiéis, salutarmente impregnados e nutridos pela palavra divina, fugindo de todos os vícios, praticando todas as virtudes, e evitando assim as penas eternas, possam chegar à glória do céu.

De acordo com os deveres de Vossa missão pastoral, e seguindo as inspirações de Vossa prudência, exortai constantemente todos os eclesiásticos sob Vossas ordens, incentivando-os a refletir seriamente sobre o augusto ministério que receberam de Deus; que todos sejam diligentes em cumprir com a maior exatidão a parte da função que lhes cabe; que, penetrados dos mais íntimos sentimentos de verdadeira piedade, não cessem de elevar suas preces e súplicas ao Senhor; que, com esse espírito, cumpram o preceito eclesiástico da recitação das horas canônicas, a fim de poderem obter para si mesmos os auxílios divinos tão necessários para se desincumbirem dos deveres tão graves de seu cargo, e para manter o Senhor sempre apaziguado e favorável a todo o povo cristão.

Todavia, Veneráveis Irmãos, que Vossa sabedoria não esqueça que não se podem obter excelentes ministros da Igreja sem que sejam formados nos melhores institutos clericais; o resto de sua vida sacerdotal será influenciado pela forte orientação para o bem que receberam nesses piedosos refúgios. Continuai, portanto, a aplicar toda a energia de Vosso zelo na exata preparação dos jovens clérigos; que, sob Vossos cuidados, inspirem-lhes, desde a mais tenra idade, o gosto pela piedade e por uma sólida virtude; que sejam iniciados sob Vossos olhos ao estudo das letras, à prática de uma rigorosa disciplina, mas principalmente ao conhecimento das ciências sagradas. Por isso, nada deve Vos ser mais caro, nem parecer mais digno de todos os Vossos cuidados e de toda a Vossa indústria, do que cumprir a ordem dos Padres do santo Concílio de Trento, se ainda não estiver executada, instituindo seminários para os clérigos; que aumenteis, se necessário, o número dessas instituições piedosas, colocando nelas mestres e diretores excelentes e capazes, vigiando incansavelmente, com uma firmeza sempre presente, para que nesses santos refúgios os jovens clérigos sejam constantemente formados no temor do Senhor, no estudo, e, sobretudo, na ciência sagrada, sempre conforme o ensino católico, sem o menor contato com o erro, de qualquer espécie que seja, segundo as tradições eclesiásticas e os escritos dos Padres; que sejam muito cuidadosamente exercitados nas cerimônias e nos ritos sagrados, para que, mais tarde, encontreis neles cooperadores piedosos e capazes, dotados do espírito eclesiástico, solidamente fortalecidos pela ciência, e que possam, no futuro, trabalhar frutiferamente no campo de Jesus Cristo e lutar valentemente as batalhas do Senhor.

Ora, como estais perfeitamente convencidos de que, para conservar e manter a dignidade e a santa pureza de todo o sacerdócio eclesiástico, nada é mais eficaz do que a instituição dos piedosos exercícios espirituais; de acordo com os impulsos de Vosso zelo e de Vossa caridade episcopal, não deixeis de exortar, incentivar e até instar muito veementemente todos os Vossos sacerdotes a se entregarem à prática de uma obra tão salutar; que, frequentemente, todos aqueles que estão engajados na santa milícia saibam escolher uma solidão favorável ao cumprimento desses santos exercícios; que lá, separados absolutamente de toda e qualquer preocupação exterior, absorvidos unicamente pela consideração das verdades eternas e pela profunda meditação das coisas divinas, possam assim se purificar das manchas que o pó e o contato com os negócios do mundo podem ter deixado em suas almas sacerdotais, renovar-se no espírito eclesiástico e, despindo-se completamente do velho homem e de todas as suas obras, revestirem-se da radiante pureza do homem novo, que foi criado na santidade e na justiça.

Não vos queixeis se insistimos tanto na necessidade da instituição e da disciplina clerical. Pois sabeis muito bem que, em nossos dias, há muitos espíritos que, cansados de ver a enorme variedade, a inconsistência e a desordem do erro, sentem interiormente a necessidade de acreditar em nossa santa religião. E estes, com a ajuda da graça divina, serão mais facilmente levados a abraçar a prática da doutrina e das prescrições dessa religião divina, na medida em que virem o clero brilhar mais que os outros em termos de piedade, pureza, sabedoria e virtude.

Finalmente, amados irmãos, não podemos duvidar de que estais animados de uma ardente caridade para com Deus e para com todos os homens, inflamados do mais vivo amor por todos os interesses da Igreja, munidos de virtudes quase angélicas, armados e fortificados com a coragem e a prudência necessárias ao episcopado, penetrados pelo mesmo desejo de cumprir a vontade divina, caminhando com passos firmes nas pegadas dos Apóstolos, e imitando, como convém a pontífices, o exemplo divino dos pastores, o Senhor Jesus Cristo, cuja pessoa representais; tornados, pelo zelo e pelos sentimentos mais unânimes, modelos espirituais do rebanho fiel; iluminando, com o resplandecente brilho da santidade de vossa vida, tanto o clero quanto o povo, e tendo adquirido entranhas de misericórdia, saibais sempre, compadecendo-vos das misérias da ignorância e do erro, à semelhança do Pastor do Evangelho, correr com ternura atrás das ovelhas perdidas; apesar de seus desvios, procurá-las durante muito tempo até que as encontreis e, quando as encontrardes, tocados paternalmente, colocá-las afetuosamente sobre vossos ombros e trazê-las de volta ao rebanho. Não omitais nunca cuidados, reflexões ou trabalhos de toda espécie para chegar ao exato e religioso cumprimento de todos os deveres de vossa missão pastoral; e, depois de terdes defendido das garras, das emboscadas e da fúria dos lobos vorazes todas as ovelhas tão queridas ao coração de Jesus Cristo, que as resgatou a preço inestimável de seu sangue divino; depois de tê-las guardado nos santos pastos, cuidadosamente afastadas da contaminação, possais, por vossas palavras, por vossas ações e por vossos exemplos, trazê-las todas juntas ao porto da salvação eterna.

Trabalhai, portanto, corajosamente, veneráveis irmãos, para promover a maior glória de Deus; e, com um extraordinário desvelo de solicitude e vigilância, como por um esforço comum, procurai conseguir que, após a total destruição dos erros e a erradicação absoluta dos vícios, a fé, a piedade e a virtude cresçam dia a dia, e em toda a terra, de maneira admirável; que todos os fiéis, rejeitando com desprezo as obras das trevas, caminhem dignamente como filhos da luz celestial sob os olhos de Deus, cujas ações sempre lhe são agradáveis; e, nas angústias, dificuldades e perigos extremos, que são inseparáveis, hoje especialmente, do cumprimento de vossas tão graves funções no ministério episcopal, guardai-vos de jamais sucumbir ao temor; mas, ao contrário, fortalecei-vos no Senhor, e confiai no poder daquele que, nos olhando do alto do céu, encoraja os que se alistam, sustenta os combatentes e coroa os vencedores.

Mas, como nada nos poderia ser mais agradável, mais doce ao nosso coração, mais desejável para o bem da Igreja, do que vos ajudar a todos, ó vós, a quem amamos ternamente nas entranhas de Jesus Cristo, e a quem desejamos envolver com o nosso amor, com os nossos conselhos, para poder trabalhar de comum acordo na defesa e propagação da glória de Deus e da fé católica; e como estamos mesmo prontos, se necessário for, a dar a nossa própria vida para a salvação das almas, ó nossos irmãos, vinde, vos pedimos e suplicamos, aproximai-vos com grande ânimo e plena confiança deste Trono do bem-aventurado príncipe dos Apóstolos, deste centro da unidade católica, este cume supremo do Episcopado, de onde emana toda a autoridade desse nome; acorrei, portanto, a nós todas as vezes que sentirdes necessidade de recorrer à ajuda, ao apoio e à força que para vós encerra a autoridade deste Sé Apostólico.

Ora, gostamos de esperar que nossos caríssimos filhos em Jesus Cristo, os príncipes, guiados por seus sentimentos de piedade e religião, sempre terão presente em suas memórias esta verdade: que a autoridade suprema não lhes foi dada apenas para o governo dos negócios do mundo, mas principalmente para a defesa da Igreja; e nós próprios, ao nos devotarmos inteiramente à causa da Igreja, estamos trabalhando pacificamente para a felicidade de seus reinos, para sua própria conservação e para o exercício de seus direitos; gostamos de esperar, dizemos nós, que todos os príncipes saberão favorecer, com o apoio de sua autoridade e a ajuda de seu poder, os desejos, os planos e as disposições ardentes para o bem de todos, que temos em comum com eles. Que defendam, portanto, e protejam a liberdade e a plena vitalidade desta Igreja católica, para que o império de Jesus Cristo seja defendido por sua poderosa mão.

Para que todos esses projetos alcancem resultados felizes e prósperos, recorramos com confiança, veneráveis irmãos, ao trono da graça; e todos juntos, com um uníssono e perseverante concerto de fervorosas orações, com toda a humildade de que for capaz o nosso coração, supliquemos ao Pai das misericórdias e ao Deus de toda consolação, para que, pelos méritos de seu Filho unigênito, Ele se digne derramar sobre nossa fraqueza a inefável abundância de todas as graças celestiais; que pela virtude de seu todo-poder, Ele mesmo repila os que se opõem a nós; que Ele espalhe e aumente por toda parte a fé, a piedade, a devoção, a paz; de modo que a santa Igreja, depois de ser libertada das adversidades e de todos os erros que a cercam, possa finalmente gozar do tão desejado e necessário repouso, e que já não haja mais do que um só rebanho e um só pastor. Mas, para que o Senhor, tão clemente, incline mais eficazmente seu ouvido divino às nossas orações, e acolha mais favoravelmente os nossos votos, tenhamos sempre junto a Ele, como intercessora e mediadora poderosa, a santíssima e imaculada Mãe de Deus, que é sempre nossa Mãe mais suave, nossa mediadora, nossa advogada, nossa esperança e confiança mais perfeita, e cujo patrocínio maternal é o que há de mais forte e mais eficaz junto de Deus.

Invoquemos também o príncipe dos Apóstolos, a quem Jesus Cristo confiou as chaves do Reino dos Céus, a quem Ele próprio constituiu a pedra fundamental da Igreja, contra a qual as portas do inferno jamais prevalecerão. Invoquemos São Paulo, o companheiro de seu apostolado, e todos os santos do céu, que já possuem a palma e a coroa, para que todos nos ajudem a obter, para toda a cristandade, a abundância tão desejada da misericórdia divina.

Por fim, veneráveis irmãos, como penhor de todos os dons celestes e, sobretudo, como testemunho de nossa ardente caridade para convosco, recebei de coração a nossa bênção apostólica, que concedemos do fundo de nossa alma a todos os membros do clero e a todos os fiéis leigos confiados aos vossos cuidados.

Dado em Roma, junto à Santa Maria Maior, no dia 9 de novembro do ano de 1846, primeiro de nosso pontificado.

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