ACEITAÇÃO PACÍFICA E UNIVERSAL DO PAPA

26/12/2023

Resposta ao blog "Unam Sanctam" sobre o artigo do Pe. Anthony Cekada "Bergoglio não tem nada a perder" e uma refutação à doutrina da Aceitação Pacífica e Universal do Papa segundo a ótica do Cardeal Louis Billot que foi refutado pelo Pe. Dr. Joaquim Saenz y Arriaga e pelo Papa Pio XII na encíclica Mystici Corporis.

Por: Gabriel Sapucaia


Introdução

O presente artigo tem como objetivo refutar os erros contidos em um dos posts do blog "Unam Sanctam" cujo título é o mesmo de nosso artigo, blog este cuja posição não está bem delimitada, ou seja, se é continuísta (adeptos da hermenêutica da continuidade) ou se é R&R (adeptos da posição reconhecer e resistir da Fraternidade Sacerdotal São Pio X), mas que divulga o falso Bispo Athanasius Schneider, um clérigo que possui contato com ambas as posições. Ao ler o artigo do Unam Sanctam o leitor desavisado ou que ainda está buscando conhecer e entender as controvérsias que circulam o meio tradicional católico vai, provavelmente, concordar com o que o blog diz, haja vista que pretende estar refutando um dos maiores ícones do sedevacantismo: o Padre Anthony Cekada em seu artigo "Bergoglio não tem nada a perder".

A tentativa de refutar o Pe. Cekada foi na verdade um "enchimento de linguiça", ou seja, pouco disse sobre o artigo, fez um "recorte e costura" ignorando outras partes do artigo e fez conclusões dissonantes daquilo que o Pe. Cekada disse. Propriamente falando: o Unam Sanctam mentiu acerca da argumentação do padre e finalizou com uma avalanche de citações de teólogos fora de contexto e com mais "recorte e costura" para fundamentar a sua compreensão errônea da doutrina da Aceitação Pacífica e Universal do Papa.

Antes de dar início às refutações, convido ao caro leitor que leia a "refutação" do blog Unam Sanctam após este artigo ou o inverso (tanto faz) e tire suas conclusões, e já esteja de alerta que no meio tradicional existem mais cobras do que ovelhas, e que é algo bastante raro (porém, existe) um tradicional fazer recorte e costura de teólogos, prática esta presente nos sedeprivacionistas e adeptos da FSSPX, por exemplo.

Agora, tendo em vista essas considerações introdutórias, creio que o leitor poderá se situar melhor neste debate e entender quem está contra quem. No caso, sou um sedevacantista que está escrevendo contra um provável continuísta (ratzingeriano ou hermeneuta da continuidade) ou membro da Fraternidade Sacerdotal São Pio X, ou seja, eu, que defendo a posição de que a Sede está vacante desde a morte de S.S. Pio XII contra alguém que visa sustentar que de "João XIII" até "Francisco", são todos Papas, ou seja, os Vigários de Cristo na Terra.


1. MUDANÇA NO ARGUMENTO?

No artigo mencionado do blog Unam Sanctam afirma-se que o Pe. Cekada, "não tendo sido capaz de oferecer uma resposta convincente às críticas de suas teorias, postou um artigo em seu site declarando que "o argumento sedevacantista deve mudar" (o que, é claro, deve ser o caso quando o argumento – que um Papa perde seu cargo pelo pecado de heresia sob a lei divina – é falso)", o que se mostra falso de acordo com o próprio Pe. Cekada:

"O Catholic Family News retornou ao assunto em abril com Belarmino e Suarez sobre a Questão do Papa Herético [10], de Robert Siscoe. Fiel ao nível de conhecimento que ora pode-se esperar do meio R&R, o Sr. Siscoe (1) tentou superar o que eventualmente se tornou o ensinamento unânime dos teólogos acadêmicos, conforme Belarmino, sobre o papa herético com uma citação do manual americano de direito canônico em vernáculo do século XIX, (2) reciclou citações de obras cujas versões originais ele obviamente nunca leu (os excertos são das Considerações de Silveira, 1971), (3) aglutinou impropriamente duas passagens de Belarmino que estão a quatro colunas uma da outra, a fim de transmitir a falsa impressão de que Belarmino requer duas "advertências" para que se possa dizer que o papa herético caiu de seu ofício. Cedo ou tarde, estes e a maioria dos escritos anti-sede dos últimos trinta e cinco anos volve para objeções relacionadas à perda do ofício por um papa herético. Ocorreu-me, portanto, que chegou a hora de os sedevacantistas abandonarem esta parte de seu argumento, pela simples razão de que ela já não se aplica à Era de Bergoglio.

Ou seja, o Pe. Cekada apenas afirma que o argumento não é bom contra Bergoglio porque ele não tem nada a perder, ou seja, não possui episcopado, não possui catolicidade porque sempre foi adepto às heresias modernistas e liberais do Concílio Vaticano II, fora os pecados públicos de apostasia como no Sínodo da Amazônia e Encontros de Assis.

O que mais pode nos surpreender na argumentação do Unam Sanctam? Eis: "Já refutamos o argumento do Pe. Cekada sobre o "pecado da heresia" ad nauseam (e também notamos que os canonistas que Cekada cita nunca dizem que o pecado da heresia impede o membro de ser eleito para o ofício porque, como vimos, o pecado da heresia por si só não separa membro da Igreja)", o pecado de heresia por si só não separa o membro da Igreja? S.S.Pio XII discorda desse posicionamento na Encíclica Mystici Corporis Christi que de acordo com o comentário do teólogo Pe. Van Noort:

O mesmo pontífice explicitamente assinalou que, ao contrário de outros pecados, heresia, cisma e apostasia automaticamente separam um homem da Igreja. 'Pois nem todo pecado, não importa quão grave ou enorme seja, é daqueles que automaticamente separam um homem do Corpo da Igreja, como o fazem cisma ou heresia ou apostasia' (n. 30) (Dogmatic Theology II: Christ's Church, 153).

A palavra "automaticamente" é desconhecida do blog Unam Sanctam? A encíclica de Pio XII também é desconhecida? Seria a única "desculpa" para um erro dessa magnitude em matéria de fé, ou seja, afirmar que um herege faz parte da Igreja até que seja condenado formalmente solenemente com duas advertências por ela. E o Cânon 2314, ao afirmar que os apostatas, hereges e cismáticos caem em excomunhão ipso facto por conta deste delito deixa isso bem claro. Ainda que se mencione o ponto numero 2 sobre as admoestações presentes neste Cânon, os comentaristas do Código de 1917 da edição castellana, com aprovação eclesiástica afirmam que estes pontos são apenas agravantes do delito, e não condições necessárias, além de que o ponto 1 do cânon sobre a excomunhão ipso facto é uma pena laetae sententiae (sem necessidade de julgamento) e os pontos 2-3 possuem penas ferendae sententiae (necessitam de julgamento).

O que o Pe. Cekada afirma sobre o caso de Jorge Mario Bergoglio é o mesmo que o Pe. Dr. Joaquin Saenz y Arriaga, fundador da posição sedevacantista e doutor em teologia nos anos 70 já afirmava em sua obra "SEDE VACANTE", ou seja, que ou o Papa caiu em heresia (no caso, ele fala de Paulo VI) ou sua eleição foi nula devido a algum defeito em sua eleição. Caso ele tenha sido eleito validamente – ressalta-se: isso sobre Paulo VI, já que ele era Bispo e na época não se tinha conhecimento suficiente sobre seus pecados públicos contra a fé e unidade da Igreja, coisa que hoje se sabe, por exemplo, pelo livro "Mistério de Iniquidade" do Pe. Schoonbroodt que prova que Angelo Roncálli, Montini e Woytjla eram hereges antes mesmo de sua eleição – caiu em heresia através dos documentos do Vaticano II sobre a liberdade religiosa, por exemplo.

Já no caso de Jorge Mario Bergoglio, ele não tem nada a perder, pois já era um herege manifesto, haja vista que pelo Decreto Lamentabili, Constituição Sacrorum Antistitum, Encíclica Pascendi Dominici Gregis somados ao Decreto Praestantia Scripturae do Papa São Pio X, o seu modernismo é confirmado e neste último ele EXCOMUNGA os modernistas (constituindo-se em documento infalível de acordo com o mesmo Doutor Pe. Arriaga se somado com as encíclicas anteriores). Isso sem mencionar o Syllabus de Pio IX.

Logo, não há uma mudança no argumento. Mas o Pe. Cekada chegou nesse argumento ao analisar o caso de Jorge Mario Bergoglio, algo que o Pe. Dr. Joaquim Saenz y Arriaga já havia concluído nos anos 70. Resta agora ao Unam Sanctam tentarem refutar os livros do Pe. Dr. Joaquim Saenz y Arriaga (SEDEVACANTE & A Falsa Igreja Montiniana). Aparentemente para o blog Unam Sanctam há uma mudança no argumento porque não estudou o suficiente.


2. ACEITAÇÃO PACÍFICA E UNIVERSAL

Chegando no argumento onde os continuístas e os R&R arremessam sua âncora para que o seu navio não se deixe levar até a "terra prometida" da verdade, permanecendo assim em alto mar dizendo em voz alta "está tudo bem! A terra prometida é uma falsa solução! Morramos de fome até que o nosso capitão pirata ao invés de nos matar nos salve!", ou seja: a aceitação pacífica e universal do papa...

Sem dúvidas é um argumento que de acordo com os canonistas do séc. XIX tem sua validade, pois eles falam não sobre um papa herege, mas sim sobre defeitos na eleição do papa que não possuíam provas, mas que se ocorressem, pela aceitação universal dos cardeais e Bispos, estaria tudo bem com a eleição e ele seria de fato o papa reinante. Existem muitos teólogos que falam acerca disso, mas, merece destaque o Cardeal Louis Billot, S.J, pois o blog Unam Sanctam interpreta os canonistas mediante a argumentação de Billot, que ultrapassa os limites dos canonistas, ou seja: o pecado de heresia.

Para o Cardeal Billot, existem heresias que não separam da Igreja... Esse é o primeiro erro teológico de Billot que vai de contra o que diz a Mystici Corporis Christi de Pio XII, o que não é de se impressionar haja vista que o Cardeal Billot publicou o Tratado da Igreja de Cristo (que contêm o seu argumento) no ano de 1909, e a encíclica de Pio XII foi publicada em 1943, encerrando, assim o debate acerca do assunto que poderia ainda estar ocorrendo entre os teólogos. Mas, ignorando a encíclica de Pio XII, vamos analisar a argumentação do Cardeal Billot de acordo com outro doutor em teologia: o Pe. Dr. Saenz y Arriaga, que em sua crítica no livro SEDEVACANTE aponta imprecisões de Billot em seu modo de se expressar teologicamente, tais como "quase" infalível (acerca da certeza quase infalível de que a aceitação universal já torna a eleição, ainda que seja de um herege, válida e fora de qualquer alcance de crítica), alegando que não existe algo "quase infalível", pois ou se é infalível ou não é! Além disso, o Pe. Arriaga comenta que a aceitação pacífica e universal é problemática, pois não foi definido o modo que se dá essa aceitação, ou seja: é através do cardeal que anuncia que temos um papa? É através da confirmação de todos os Bispos, e se for, é preciso que antes a notícia chegue aos Bispos para que possa ser aplicada tal doutrina? Além disso, o Pe. Arriaga comenta a triste afirmação de Billot de que existem heresias que não fazem a pessoa sair da Igreja... Ou seja, o Cardeal afirma que um herege é católico em certos casos! Como pode coexistir catolicidade e heresia? Estas são resumidamente algumas críticas do Pe. Arriaga sobre tal doutrina.

Acerca dos demais teólogos citados pelo Unam Sanctam: eles falam de delitos cometidos na eleição, e não sobre a eleição de um herege manifesto. Além do mais, eles militaram em favor desse argumento porque a eleição de Pio IX tinha sido criticada por muitos clérigos não por heresia, mas por suspeitas infundadas e conspiratórias, algo que com o Código de 1917 se deu por encerradas tais suspeitas e foram dadas suas devidas penalidades.


CONCLUSÃO

É muito fácil convencer iniciantes nas controvérsias tradicionais citando muitos teólogos fora de contexto, certo, Unam Sanctam? Os senhores seguem o mesmo modus operandi de todos os hereges: uns usam as Escrituras com interpretações errôneas e os senhores utilizam de teólogos de difícil acesso ao povo e adulteram seu ensinamento.

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