A INFALIBILIDADE DA IGREJA CATÓLICA ROMANA EM MATÉRIA DE FÉ E MORAL.
Por M.Pe. Mercier
Tradução por: Gabriel Sapucaia
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SERMÃO
IX.
A INFALIBILIDADE DA IGREJA CATÓLICA ROMANA EM MATÉRIA DE FÉ E MORAL.
Por M. l'abbé Mercier
Orateurs sacrés, por M. l'Abbé MIGNE, T. 67, 1855, pp. 1064-1073
Qui
vos audit me audit, et qui vos spernit me spermit
(Luc., X, 16.)
"Quem vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza."
Assim falou Jesus Cristo aos seus apóstolos.
Sim, meus irmãos, ouvir o pastor da Igreja romana é ouvir o próprio Jesus Cristo; desprezar este sucessor dos apóstolos é desprezar Jesus Cristo; e desprezar este Homem-Deus é desprezar seu Pai celestial, que o enviou à terra para salvar os homens, morrendo por eles e fundando uma sociedade toda espiritual que continuasse, após sua ascensão gloriosa, seu divino ministério. Este ministério indestrutível que o Redentor confiou primeiramente a seus doze primeiros discípulos, são os bispos, seus sucessores, que têm o direito exclusivo de exercê-lo por si mesmos ou por sacerdotes que eles consagram para esse fim e que enviam em seu nome. Foi nas mãos deste pontífice que o Homem-Deus depositou o precioso depósito de sua religião, o cuidado de pregá-la às nações, de lhes dispensar a graça e as consolações. Por meio dele, esses chefes do rebanho foram exclusivamente encarregados de fixar para sempre o verdadeiro sentido das Sagradas Escrituras e da tradição que a heresia tenta envenenar e que a impiedade gostaria de destruir. Portanto, desobedecer aos bispos e desprezar seus ensinamentos é desobedecer a Deus e desprezar sua doutrina: Qui vos spernit, me spernit. Mas, alguém sem dúvida me dirá: e se esses pastores se enganarem nas coisas que nos ensinam e nos mandam? Cristãos, é precisamente para esclarecer a sua fé sobre esses dois pontos importantes que empreendo este discurso, cujo propósito é o seguinte: a Igreja romana, ou seja, o corpo dos bispos católicos, presidido pelo Papa, é infalível tanto em matéria de fé quanto em matéria de moral. Daí concluo necessariamente que devemos acreditar com total segurança em tudo o que ela ensina e praticar tudo o que ela ordena.
PRIMEIRA PARTE
A Igreja de Jesus Cristo não pode ensinar, como artigo de fé, nada além do que é a própria palavra de Deus. Estabeleçamos este princípio fundamental, tanto pelas simples luzes da razão quanto pelos oráculos da Verdade soberana. Primeiro, Deus, sendo a suprema sabedoria, ao estabelecer sua Igreja, deve ter empregado todos os meios para mantê-la e eternizá-la em sua pureza primitiva. Ora, meu caro irmão, de todos esses meios, o mais indispensável é, incontestavelmente, a infalibilidade em seus ensinamentos; e sem esse caráter essencial, a religião de Cristo não teria podido evitar perecer junto com seus fundadores. Para se convencer disso, basta retroceder mentalmente ao momento da morte do último dos apóstolos. Qual será o destino do Evangelho que eles anunciaram ao mundo? Quem velará doravante pelo depósito sagrado da revelação? Quem o conservará em toda a sua integridade? Ele está consignado, responde-se, nos livros dos profetas, dos apóstolos, dos evangelistas: eu sei disso; mas quem me garantirá a autenticidade desses livros inspirados, quem me assegurará que essas produções divinas contêm realmente a palavra de Deus e nada mais que essa palavra? Quem, finalmente, afastará os erros e todas as falhas graves que poderiam se infiltrar por negligência ou má-fé dos copistas e impressores? Esses escritos celestes, tendo sido traduzidos tantas vezes e em tantas línguas diferentes, quem me afirmará que todas essas traduções são exatas e fiéis? Como, em uma palavra, distinguirei a verdade da mentira, se uma autoridade viva não me a indicar infalivelmente?
E não é só isso: abro a Bíblia e leio atentamente várias passagens difíceis de entender. Como saberei que estou captando o verdadeiro sentido? Pois este livro, que é mudo por si mesmo, parece suscetível de diferentes e diametralmente opostas interpretações. Pois bem! Se fosse permitido a cada leitor interpretar, conforme sua inteligência, suas inclinações, seus caprichos, o Antigo e o Novo Testamento, não resultariam tantas doutrinas e religiões quantas há de famílias e indivíduos? E então, pergunto-vos, de que teria servido que Jesus Cristo tivesse descido entre os homens para lhes ensinar a verdadeira e única ciência da salvação?
Ah! Meus irmãos, não temamos uma desordem tão indigna da presciência e da bondade de Deus; uma desordem que nem mesmo encontra exemplo entre os fracos mortais. Qual é, de fato, o governo que deixa a interpretação de suas leis à ignorância e às paixões da multidão? Qual é o monarca que não estabelece tribunais compostos de magistrados hábeis e experientes, para manifestar o verdadeiro espírito da lei e aplicá-la justamente? Como terminariam os numerosos processos em que cada parte clama ter o Código a seu favor, se uma autoridade soberana não fosse exclusivamente encarregada pelo rei de promulgar o verdadeiro sentido e julgar em última instância quem está certo e quem está errado? O quê! Esse meio de sabedoria e de conservação, que não foi esquecido por nenhum legislador humano, teria escapado ao supremo Legislador do universo?
Você vê claramente, meu caro ouvinte; na ordem espiritual, onde nada se faz por coerção, mas tudo, ao contrário, se cumpre por convicção e persuasão, era absolutamente necessário que o Dominador do tempo e da eternidade instituísse, no meio das gerações, um tribunal infalível e universal para constatar irrevogavelmente a autenticidade, a integridade e a verdade de seus dogmas divinos; para confundir o orgulho criminoso da heresia e da incredulidade, que tentariam alterá-los e destruí-los no coração do homem; para tranquilizar, instruindo de maneira segura, a consciência dos fiéis; para perpetuar, enfim, para imortalizar sua religião na sociedade das inteligências.
Mas apressemos-nos a provar de maneira ainda mais vitoriosa, pelos próprios oráculos do Evangelho, essa infalibilidade tão consoladora da Igreja romana.
Jesus Cristo nos ordena ouvir sua Igreja sob pena de ser tratados por ele como pagãos e publicanos. Ora, meus irmãos, o Filho de Deus nos imporia uma obrigação tão temível em suas consequências se não tivesse dotado essa Igreja com o dom da infalibilidade? O quê! Por um lado, o corpo episcopal poderia nos ensinar uma doutrina falsa, e, por outro, o sublime Preceptor do gênero humano nos ordenaria imperiosamente, sob pena de reprovação, receber essa doutrina enganosa como se fosse revelada do alto! Que blasfêmia!... Aqui, queridos irmãos, uma outra promessa de infalibilidade, ainda mais precisa e solene. Prestes a voltar para seu Pai, Jesus Cristo deseja revestir a fraqueza de seus apóstolos com toda a força de seu braço: com toda a plenitude de seu sacerdócio; ele deseja comunicar-lhes seus imensos poderes! Que linguagem ele usará em uma circunstância tão tocante, tão memorável, tão decisiva? Ouçamos: "Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra; eu vos envio como meu Pai me enviou; ide, ensinai todas as nações, e eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos." (Mat., XXVIII, 18-20; Joan., XXI, 21.) Está claro agora, meu caro ouvinte, que essa magnífica promessa do Salvador de estar continuamente com os discípulos para ajudá-los a ensinar e a explicar sua fé se refere não apenas aos apóstolos, que viveriam apenas alguns anos, mas também aos bispos, seus sucessores? Ora, meus irmãos, se Jesus Cristo assiste, todos os dias, aos sucessores dos apóstolos, poderiam eles ensinar outra coisa senão a verdade? Pois se viessem a pregar o erro, a Igreja não sucumbiria sob o golpe do inferno, apesar da promessa feita a Pedro de que as portas, que o poder do inferno jamais prevaleceriam contra esta Igreja? Portanto, a Igreja de Jesus Cristo é evidentemente infalível em matéria de fé.
É preciso mais, meu caro ouvinte, para iluminar e fortalecer sua fé? Oh! O que poderia então, pergunto, alarmá-la, abalá-la? A profundidade dos mistérios do cristianismo? Mas que nos importa compreendê-los aqui na terra, uma vez que sabemos indubitavelmente que é o próprio Deus que nos revelou, e que não exige de nossa razão um sacrifício tão passageiro e tão legítimo senão para nos recompensar magnificamente um dia. Seria a obscuridade que os Livros sagrados frequentemente apresentam? Essa dificuldade, confesso, é esmagadora para nossos irmãos extraviados, que, para este ponto fundamental, não admitem outra autoridade além da razão individual; pois esse julgamento particular, apresentando a cada um deles, sobre o mesmo objeto, as opiniões mais variadas, as doutrinas mais contraditórias, os joga necessariamente em uma confusão e os divide quase em tantas seitas quantos são os protestantes. Mas essa dificuldade de compreender os escritos inspirados poderia perturbar um único instante os católicos, que recebem o verdadeiro sentido da boca de uma Igreja que Jesus Cristo expressamente lhes ordena ouvir como ele mesmo? Sim, meu caro irmão, a palavra de Jesus Cristo e a experiência de dezoito séculos devem tranquilizar a crença do fiel romano, mesmo no meio do maior perigo. Se a serpente da heresia se levanta do fundo do abismo, erguendo sua cabeça orgulhosa e emitindo seus silvos e blasfêmias, o bispo diocesano logo soa a trombeta evangélica e se arma de seu cajado pastoral para advertir e defender seu rebanho, e seu exemplo é logo seguido pelos bispos de sua província. Se seus esforços conjuntos não forem suficientes para deter a contaminação, eles imploram o poderoso auxílio do chefe da Igreja, que convoca um concílio nacional ou universal, se as circunstâncias permitirem e exigirem, ou que pronuncia ele mesmo, do alto da Cátedra de Pedro, com todo o peso de sua soberania apostólica, e sua decisão solene, sendo aprovada por todos os bispos, ou pela grande maioria dos bispos, os espíritos inquietos ou indecisos logo recuperam sua tranquilidade. É então que se ouve o sábio Agostinho exclamar com ação de graças: "Roma falou, a causa está encerrada." É então que se vê o piedoso Fénelon condenar prontamente sua própria obra; e se por acaso houver hereges insubmissos e audaciosos, logo confundidos e fulminados por toda a Igreja, independentemente de seu poder e gênio, eles são apagados com opróbrio do registro de seus filhos.
Que os bispos unidos ao Papa, diz-se, sejam infalíveis em matéria de fé, não podemos mais duvidar. Mas, como é de experiência que o bispo tomado individualmente pode errar tanto quanto o simples sacerdote enviado por ele, quem nos assegurará que nossos pastores e missionários nos pregam apenas a verdadeira doutrina? Já vos disse, meus irmãos: se um confessor ou pregador fosse suficientemente ignorante ou perverso para ensinar heresia, seu bispo, logo informado disso, o obrigaria a retratar-se imediatamente e a fazer reparação pública por sua impiedade; e se, por desgraça, o que não é sem exemplo, esse bispo falhasse em seu primeiro dever ou propagasse ele mesmo o erro, os bispos vizinhos se apressariam a vir em socorro do dogma atacado. Pergunto-vos, caro irmão, se eu ousasse sustentar neste momento que Jesus Cristo não é Deus, que ele não está realmente presente na Eucaristia, e outros blasfêmias semelhantes, quem entre vós não me repudiaria com indignação e não me denunciaria aos meus superiores eclesiásticos? Quando Nestório não hesitou em pregar publicamente que Maria não era Mãe de Deus, não foi contraditado imediatamente por um simples leigo que se levantou no meio da audiência para vingar a honra da Virgem Santa, cujo privilégio mais sublime foi logo solenemente proclamado no concílio geral de Éfeso?
Bendito sejas, ó meu Deus! Por teres proporcionado a todos os homens, ignorantes e sábios, um meio seguro e fácil de conhecer tua religião e, por ela, o caminho do céu! Descanso, então, com total segurança em uma Igreja que iluminas constantemente, que governas tu mesmo do alto dos céus! Exponho-lhe minhas dúvidas e submeto-me de antemão a todas as suas decisões; tudo o que ela professa, eu professo; tudo o que ela condena, eu condeno; e sou feliz demais se consigo cumprir tudo o que ela prescreve!... Resta-me, meus irmãos, apenas demonstrar sua infalibilidade em matéria de moral.
SEGUNDA PARTE
Meus irmãos, é uma verdade de fé ensinada pelo grande Apóstolo que o Espírito Santo encarregou os bispos, e somente os bispos, de governar a Igreja de Deus, e que, como consequência necessária, investiu-os com o poder de fazer leis e punir os violadores delas: Posuit episcopos regere Ecclesiam Dei (Atos, XX, 28).
Mas que leis, me perguntarão? Todas aquelas que julgarem essenciais e convenientes para a manutenção da fé e da moral evangélica, para a pregação das verdades santas, para a administração dos sacramentos, para a decência e majestade do culto, para a ordem e a disciplina nos templos, para a pureza dos costumes, para a correção dos abusos, para a supressão do escândalo, para a proibição de livros e ensinamentos corruptores e subversivos, e, em uma palavra, para tudo o que pode interessar à glória de Deus e à santificação das almas. Ora, meu caro ouvinte, quando dizemos que a Igreja é infalível em matéria de moral, entendemos que ela não pode errar no exercício de sua autoridade legislativa; ou, em outras palavras, que ela só pode fazer e fará sempre leis sábias, úteis, conformes à vontade de seu fundador e ao bem espiritual de seus filhos; que, finalmente, em seus conselhos, suas aprovações e reprovações, ela não abusará do grande poder que o Salvador lhe confiou por estas palavras memoráveis: "Ide, ensinai todas as nações, e ensinai-lhes a observar todas as coisas que vos tenho prescrito" (Mat., XXVIII, 19-20).
Vocês compreendem, meus irmãos, que essa infalibilidade da Igreja em matéria de moral repousa sobre os mesmos fundamentos que sua infalibilidade em matéria de fé. E, de fato, é menos necessário para a salvação das almas ordenar e fazer o que é bom do que ensinar e crer no que é verdadeiro? Se a Igreja, por seus mandamentos e conselhos, pudesse nos desviar, dando-nos lições de virtude, não deixaria de ter aquela santidade e sabedoria que seu divino esposo lhe adquiriu ao preço de todo o seu sangue? Nesse caso, as portas do inferno não teriam prevalecido contra ela? O grande Apóstolo teria tido razão ao chamá-la (1 Tim., III, 15) de firmeza e coluna da verdade? Pois, como sabem, a verdade, base imutável e absoluta da ordem, tem como objetivo não apenas iluminar a mente, mas também governar o coração. Não hesitarei mesmo em afirmar aqui que, se o homem, colocado por Deus e reinstalado por Jesus Cristo na sociedade, tivesse que ser reduzido a gozar apenas das faculdades do espírito ou do coração, seria cem vezes melhor que ele brilhasse pelo coração do que pela inteligência.
O que significa então essa linguagem tão estranha? Afinal, isso é apenas um mandamento da Igreja! Não sabeis, meu caro ouvinte, que os preceitos da Igreja se confundem intimamente com os preceitos do próprio Deus, e que eles são apenas o desenvolvimento indispensável? Jesus Cristo nos disse: "Se não comerdes a carne do Filho do homem, não tereis a vida eterna" (Joan., VI), e a Igreja acrescenta: "Vosso Criador recebereis ao menos na Páscoa humildemente." Jesus Cristo nos disse: "Se não fizerdes penitência, todos perecereis" (Luc., XIII, 5), e a Igreja acrescenta: "Quatro-Tempos, vigílias jejuarás e o jejum completo na Quaresma. Na sexta-feira não comerás carne, nem no sábado também." Em duas palavras, meus irmãos, ao percorrer todos os preceitos, todas as regulamentações da Igreja, convencer-nos-emos de que, longe de serem novas e vexatórias leis, são, ao contrário, leis preciosas, leis idênticas e explicativas dos mandamentos do Senhor, e que, sem essas leis de admirável sabedoria e consumada prudência, não poderíamos nos concordar e nos entender sobre o cumprimento dos preceitos divinos. Por outro lado, já se esqueceram de que desobedecer à Igreja é desobedecer ao próprio Jesus Cristo, que a estabeleceu para ensinar a moral assim como para ensinar o dogma? Sem dúvida, se o governo dos bispos fosse como todo governo humano, nos seria permitido interrogar nossa consciência antes de nos submetermos a todas as suas exigências, pois, apesar do profundo respeito que professamos por todo poder temporal, pelo poder real, por exemplo, proclamamos audaciosamente a incomparável superioridade da Igreja de Jesus Cristo sobre a autoridade tão instável e tão precária dos senhores do mundo. A infalibilidade que por natureza pertence apenas a Deus foi concedida por privilégio apenas a Pedro, aos apóstolos e aos bispos, seus sucessores reunidos em concílio pela vontade do Papa. A eles somente foi dito: "Todos os dias, até o fim dos tempos, estarei convosco, convosco governando minha Igreja, convosco administrando meus sacramentos, convosco ensinando às gerações a doutrina e a moral que trouxe do alto dos céus." Sim, meu caro ouvinte, estás a salvo de toda inquietação, seguindo as leis gerais da Igreja e mesmo as ordens particulares de vosso bispo; por quê? Porque se os mandamentos deste prelado contivessem heresias, erros, disposições legislativas ou administrativas contrárias às antigas e universais regras da Igreja católica, esses mandamentos seriam imediatamente fulminados pela inflexível pena dos outros bispos e pela irrefutável sentença da Sé apostólica.
O poder dos soberanos deste mundo, ele também, provém do Altíssimo, sabemos, confessamos, e é por isso, por isso somente, que lhes devemos obediência consciente nas coisas temporais que estão sob sua jurisdição e competência, desde que as leis emanadas de sua autoridade secundária não estejam em oposição com a doutrina e a moral evangélica, expressão imediata e permanente da Verdade eterna: pois se fosse diferente, todos nós, clérigos e leigos, estaríamos obrigados a responder-lhes, a exemplo dos apóstolos (Atos, V, 29): "Não podemos fazer o que nos ordenais: vosso juiz, que é o nosso, nos proíbe sob pena dos mais temíveis anátemas; e devemos preferir a vontade desse grande Deus à dos homens."
Resumamos, meus irmãos, o que pregamos outrora e hoje sobre a Igreja romana e sua infalibilidade em matéria de fé e moral.
À vista do acampamento de Israel, nobre figura da Igreja de Jesus Cristo, e da bela e imponente harmonia que reinava entre as doze tribos de Jacó e as unia sob o duplo comando de Aarão e Moisés, seus ilustres chefes, Balaão, profeta do exército inimigo, que se desejava forçar a amaldiçoar o povo amado de Deus, não podendo resistir ao Espírito da verdade mais forte do que o do engano, exclamou em um transporte de admiração: "Quão formosas são tuas tendas, ó Jacó! Quão magníficas são tuas moradas, ó Israel!" (Quam pulchra tabernacula tua, Jacob, et tentoria tua, Israel!) (Num., XXIV, 5.)
Alguns séculos mais tarde, lançando um olhar profético sobre o reino do Messias e sobre os triunfos de sua Igreja, Isaías exclamou com o mesmo entusiasmo: "Quão formosos são os pés daquele que anuncia e que prega a paz sobre os montes, os pés daquele que anuncia boas novas, que prega a salvação, que diz a Sião: Teu Deus reina!" (Isa., LII, 7.)
A Igreja à qual, queridos ouvintes, temos a felicidade de pertencer, é um corpo que ensina o que se deve crer, prescreve o que se deve fazer, dispensa os auxílios espirituais e as graças para nossa regeneração moral em Jesus Cristo. Ela se compõe do Papa, que é seu chefe supremo; do colégio dos cardeais, que são seus príncipes eleitores; dos bispos, que são os governadores eclesiásticos; dos sacerdotes, que são os dispensadores imediatos da religião aos fiéis; e dos próprios fiéis, que, por sua fé prática, participam, de todos os cantos do espaço e do tempo, da unidade soberana que se resume no papado!
Como gosto, queridos ouvintes, de contemplar, em espírito, todos os bispos do mundo cristão, com todos os sacerdotes e todos os fiéis confiados aos seus cuidados, ouvindo com profundo respeito e total submissão a voz majestosa e imponente do Sumo Pontífice de Roma, que, como chefe visível e pai comum desta inumerável família, ocupa aqui na terra o lugar de Jesus Cristo, o rei imortal de todos os povos e de todos os séculos!
Ó Igreja romana, como és brilhante e invencível ao mesmo tempo por esta maravilhosa aliança que une a terra ao céu, o homem à Divindade; que compreende, em uma única e mesma sociedade, Deus e suas perfeições infinitas; Jesus Cristo e a obra-prima da redenção, o homem e suas esperanças imperecíveis!
O Altíssimo, ao lançar os imutáveis fundamentos desta sociedade eterna, poderia ter oferecido ao mundo um espetáculo mais encantador, poderia ter dado uma prova mais impressionante de seu poder e de sua misericórdia! Acabo de vos dar, em poucas palavras, uma ideia tão exata quanto luminosa de nossa santa religião, ao nomear os três principais e indispensáveis objetos do culto católico, a saber: Deus, criador dos mundos, soberano dos céus que relatam eloquentemente sua eterna onipotência; Jesus Cristo, seu Filho único, cuja divindade é tão evidentemente demonstrada pelo cumprimento, em sua pessoa sagrada, de todas as profecias concernentes às menores circunstâncias de seu nascimento, de sua vida e de sua morte; por seus próprios milagres, pelos incontáveis prodígios operados em seu nome ao longo de dezoito séculos, e, sobretudo, pelo estabelecimento de sua religião, que é, ao mesmo tempo, a mais impressionante e incontestável de todas essas maravilhas: o homem, finalmente, que Jesus Cristo colocou em relação imediata com o paraíso por sua união hipostática, ou seja, unindo em sua pessoa adorável a natureza divina e a natureza humana!
Esses são, meus irmãos, os títulos inalienáveis e invioláveis de nossa dignidade, de nossa nobreza, de nosso futuro. Sim, esse é nosso Símbolo inalterável e imutável, a nós, católicos! Sim, adoramos a Deus, Pai todo-poderoso, e nos ajoelhamos muito humildemente diante de sua suprema majestade, orgulhosos e felizes demais por tê-lo como monarca e amigo! Adoramos Jesus Cristo, a própria esplendor do Pai, ao qual, desde toda a eternidade, está unido pelo laço de um amor infinito, que é o Espírito Santo, terceira pessoa da Trindade adorável, que procede eternamente do Pai e do Filho; e aceitamos, com tanta confiança quanto gratidão, sua doutrina, sua moral, seus sacramentos, seu Evangelho, em uma palavra, porque sabemos com uma ciência certa que ele é Deus, e que, como Deus, ele não pode ter-nos ensinado senão a verdade e a virtude! Sim, veneramos o homem, mas o homem que alcançou a plenitude e a perfeição de seu ser; o homem santificado e ocupando no céu um trono inabalável. O herói católico que, guiado em todas as suas ações pela Igreja romana, passou pela terra fazendo o bem, e que só chegou à glória da verdadeira pátria à custa de boas obras e sacrifícios, como Jesus Cristo, seu único modelo, não merece incomparavelmente mais nossos homenagens do que os pretensos grandes homens aos quais os filhos do século não se envergonham de oferecer incenso e coroas? Assim, Deus criador e homem criatura, Deus infinitamente perfeito, infinitamente ofendido pelo homem infinitamente imperfeito e infinitamente culpado, esses dois extremos unidos e reconciliados juntos em Jesus Cristo, mediador: eis, repito, os três principais objetos do culto católico, e é aí que se encontra toda a religião; religião que o homem não se deu a si mesmo, mas que recebeu inteiramente pronta como ela desceu dos céus com Jesus Cristo, seu fundador, tal como a Igreja romana nos ensina há 1800 anos!
Santa Igreja romana, mãe das Igrejas e mãe de todos os fiéis, Igreja escolhida por Deus para unir seus filhos na mesma fé e na mesma caridade, manteremos sempre teu vínculo de unidade em nossos corações. Se te esquecer, Igreja romana, possa eu esquecer a mim mesmo! Que minha língua se seque e permaneça imóvel em minha boca, se não fores sempre a primeira em minha lembrança, se não te colocar no início de todos os meus cânticos de alegria: Adhoereat lingua mea faucibus meis si non meminero tui, si non proposuero Jerusalem in principio laetitiae meae!!! (Salmo CXXXVI, 6.)